A Delicadeza do Invisível

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Por: Patrycia Alves

Gentileza é uma coisa engraçada. Não dá para medir, nem pesar. Ninguém coloca em uma planilha o número de vezes que segurou uma porta ou deu um bom dia mais caprichado. E, ainda assim, é a coisa mais palpável que existe. Quando alguém é gentil com a gente, o dia inteiro muda. O café parece mais quente, a música toca melhor no rádio e até o trânsito vira uma espécie de dança sincronizada — ou pelo menos, dá para xingar com um sorriso no rosto.

Eu me lembro de uma tarde comum, daí em que a vida corre sem grandes enredos. Fila no mercado, carrinho cheio, e o clássico impasse: “Vou ou não pegar mais uma barra de chocolate?” Foi quando uma senhora na minha frente deixou cair uma sacola. Antes que eu pudesse reagir, um garoto que estava com os pais na fila ao lado largou veio imediatamente para ajudá-la. Ele não tinha mais que 10 anos. Pegou as laranjas que rolaram, arrumou a sacola e ainda disse, com uma vozinha cheia de verdades: “Pronto, agora está tudo certo.”

Fiquei ali, paralisada. Não pela ação em si, mas pela naturalidade com que ele fez. Como se ajudar fosse tão instintivo quanto respirar. Ao mesmo tempo, pensei: “Pode ter muito adulto ainda na versão beta, mas esse menino já veio na versão 2.0.”

Gentileza não é sobre grandes gestos. Ninguém precisa sair por aí distribuindo flores ou salvando gatos em árvores (mas, se quiser, fique a vontade). Gentileza é quase invisível, acontece quando cedemos um lugar no ônibus, quando deixamos alguém passar na sua frente quando estiver com pressa, ou quando elogiamos o corte de cabelo do colega de trabalho ou simplesmente sorrindo para alguém na rua. É simples.

Mas, nesse mundo onde a pressa reina e estamos tão imersos em nosso ego, ser gentil é revolucionário. É quase como usar uma seta para mudar de faixa no trânsito: ninguém espera, mas todo mundo agradece.

O engraçado é que, quanto mais você pratica, mais percebe o quanto recebe de volta. Não como um troco exato, mas como um calor interno que preenche o vazio dos dias apressados. Gentileza não enche bolsos, mas transborda coração.

Comece a segure a porta do elevador, desculpe mais, agradeça mis, com vontade. Faça a sua parte para lembrar ao mundo que ainda há delicadeza. E, se no caminho ainda der para resgatar uma laranja perdida ou um chocolate extra, melhor ainda.

Foto de Matt Collamer na Unsplash

Artigo por

Patrycia Alves

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